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Miriam Rosenthal - As memórias de quem deu à luz no campo de concentração

Miriam Schwarcz nasceu de uma família ortodoxa e de boa condição social, em Komarno, na Checoslováquia, em 1922. Em 1938, depois da Alemanha, Hungria e Polônia terem invadido a Tchecoslováquia, Komarno tornou-se parte da Hungria, quando a Tchecoslováquia deixou de existir. A Hungria havia se recusado a deportar os seus judeus, no entanto em março de 1944 a Alemanha invadiu o país e a deportação dos judeus húngaros começou ocorrer pouco tempo depois. Miriam noivou com Bela Rosenthal, um rapaz que vivia em Miskolc, na Hungria. Eles haviam planejado um grande casamento e tudo já havia sido encomendado e estava pronto. No dia 5 de abril de 1944, Miriam entrou escondida em Miskolc, disfarçando-se como uma não-judia e portando documentos falsos. Naquela noite, Miriam e Bela se casaram e no dia seguinte, os alemães invadiram Miskolc. Duas semanas mais tarde foi estabelecido um gueto na cidade e o casal acabou sendo separado. Miriam foi enviada para Auschwitz com seus sogros em meados de maio. Ela sobreviveu a primeira seleção e foi enviado ao quartel das mulheres em Birkenau. Depois de várias semanas Miriam percebeu que estava grávida. Para sair de Auschwitz ela se voluntariou para ir até o campo de Plaszow. Ela trabalhou durante algumas semanas em Paszow após esse período acabou por ser novamente enviada para Auschwitz. Embora ela já estivesse em seu sexto mês de gravidez, milagrosamente ela passou por esta nova seleção. Posteriormente, Miriam foi novamente transferida, para trabalhar na fábrica de aviões Messerschmitt em Augsburg, na Alemanha. Certo dia no mês de dezembro de 1944, dois oficiais da SS apareceram na fábrica. Eles foram com pastores alemães, exigindo saber quem era a mulher grávida. Eles perguntaram uma segunda vez. “Eu tive que levantar a mão”, disse Miriam. “Se eu não levantasse a minha mão todas essas outras mulheres seriam mortas. Como eu não poderia levantar a minha mão? As meninas choraram por mim”, relembra-se. Os oficiais a levaram até um trem normal, de passageiros, o que era algo muito incomum. Uma outra mulher, que era civil e que estava no mesmo trem disse à Miriam: “O que tem com você? Você não tem cabelos. As roupas que você está vestindo. De onde você é? De algum hospital psiquiátrico?”. Essa senhora sequer tinha idéia dos horrores que a Alemanha nazista vinha fazendo com os judeus e outras minorias que também eram perseguidas pelo Terceiro Reich. Miriam chegou a responder que ela não era de um hospital psiquiátrico, que estava sendo encaminhada para Auschwitz e seria encaminhada para a câmara de gás. “Ela olhou para mim como se eu fosse louca, abriu a bolsa e me deu um pouco de pão. Eu o comi tão rápido. Eu estava faminta”, recorda-se. Mais tarde os guardas da SS informaram Miriam ela era uma “judia de sorte”, pois os crematórios em Auschwitz não estavam em funcionamento. Por isso ela foi levada para Kaufering I, uma espécie de sub-campo de Dachau, localizado ao sul da Alemanha. “Eu fui encaminhada para um porão e adivinha quem estava lá? Seis outras mulheres grávidas: chorando, rindo, segurando uma à outra, conversando em húngaro, agrupando-se na esperança de que elas poderiam realmente sobreviver. Um por um, os bebês nasceram com a ajuda de outra presidiária, uma ginecologista húngara, cujo único instrumento consistia em um balde com água quente”. Uma outra judia que estava trabalhando como Kapo era encarregada de supervisioná-las. Ela conseguiu contrabandear um fogão para dentro do quarto, onde elas estavam. Dessa forma foi possível mantê-las aquecidas no rigoroso inverno do ano de 1945. Os alemães acabaram por descobrir o fogão e bateram com seus cassetetes na Kapo, deixando-a ensanguentada e com diversas feridas em seu corpo. Mesmo após esse episódio, no dia seguinte ela novamente providenciou que o fogão fosse novamente parar no quarto das gestantes. Dia 28 de fevereiro de 1945 nasceu Leslie Rosenthal, o filhinho de Miriam. Ele foi o último bebê a nascer daquelas sete mães que se encontravam compartilhando o mesmo recinto. Ele nasceu loiro e de olhos azuis. Um soldado chegou a questionar Miriam se a criança seria de algum outro soldado, o que foi prontamente rechaçado por ela. Em meio à libertação do campo, em abril de 1945, diversos combatentes americanos puseram-se a chorar ao ver que em meio a tantas mortes ainda existia um sinal de renovação e de esperança ao ver aquelas crianças recém-nascidas. Miriam disse adeus a suas “irmãs de acampamento” e foi para sua casa na Tchecoslováquia. Seu marido também tinha sobrevivido e voltou para Komarno. “Eu podia vê-lo chegando, correndo de longe, e gritei, ‘Bela, Bela’. Eu não tinha certeza que era ele, e ele estava correndo e chamando meu nome”, recorda-se Miriam. “Eu não posso descrever aquela sensação de quando ele viu o bebê, quando ele viu Leslie pela primeira vez. Nós choramos, choramos e choramos.” A jovem família mudou-se passou pela França e por Cuba, até chegar ao Canadá em 1947. Bela encontrou trabalho em uma fábrica de colchões, mas o seu verdadeiro dom estava falando. Ele era um homem de palavras e fé. Os Rosenthals deixaram a cidade grande e passaram por Timmins e Sudbury, onde Bela serviu como rabino antes de retornarem a Toronto, no ano de 1956, onde passaram a administrar um comércio de artigos judaicos. Durante décadas Miriam não falou sobre suas experiências de guerra com alguém que não fosse o seu marido e seus três filhos. Em 2009, dois gentios alemães (Eva Gruberova e Martina Gawaz), contataram Miriam pedindo-lhe para deixá-las fazer um filme de televisão sobre a história dela e de outros sobreviventes. Ao pesquisar a história de Dachau, Eva Gruberova - que teve seu avô assassinado lá em meados dos anos 30, como um preso político - tinha visto uma fotografia original de cinco das mães e seus bebês e foi assombrada pela imagem. Relutante, Miriam concordou em ser filmada. Ela ainda foi acompanhada por uma das sete crianças que havia nascido em Kaufering I. Ela era Marika Novakova, da Eslováquia, “minha irmã de acampamento”, comentou Leslie Rosenthal, ao referir-se a ela - cuja mãe, tinha lhe amamentado. Em meio às filmagens, Miriam ficou chocada ao reparar que ainda era capaz de falar um alemão fluente, quando foi solicitada para tentar. Aquela foi a primeira vez desde o Holocausto que ela havia voltado a falar o alemão. Miriam veio a perder seu marido quando ele já tinha 97 anos de idade. Ela atualmente conta com mais de 90 anos e já possui mais de 10 bisnetos.

Registro do casamento entre Miriam e Bela Rosenthal. Na ocasião ela prendeu uma rosa vermelha em sua lapela para cobrir a estrela de David amarela que era obrigada a usar.

Registro das sete mães com os seus bebês que nasceram em Kaufering I. Miriam é quem aparece mais a direita da foto.

De acordo com o “United States Holocaust Memorial Museum”, os bebês normalmente eram mortos em todos os campos de concentração nazistas, mas estes bebês mostrados na foto foram autorizados a viver, porque a guerra iria acabar em breve e os nazistas queriam usá-los como moeda de troca nas negociações com os Aliados.


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