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Lily Ebert - O pingente de ouro

Lily Ebert cresceu em uma típica família judia de classe média em Bonyhád, na Hungria onde seus maravilhosos pais conseguiram proteger ela da perseguição durante os primeiros anos da guerra. Ela sempre disse que teve três vidas: a infância protegida, a vida no inferno e a vida após o inferno. O inferno de Lily começou quando ela tinha 15 anos e a Alemanha invadiu a Hungria em 1944. Naquele tempo 75% da população judia já não estava viva e a maioria dos adultos também não tinha noção desses números. O que mais assustava era que a invasão veio quando se pensava que a vitória Alemã não aconteceria. Porém, os alemães queriam destruir a população judaico-hungara e eles sabiam exatamente como fazer. Os judeus foram forçados a desistir de suas propriedades, colocar uma estrela de David amarela em suas roupas para marcá-los como judeus e foram levados aos guetos. No inicio de Julho de 1944 - pouquíssimo tempo depois da invasão nazista - a família de Lily foi levada aos trilhos onde trens que eram utilizados para carregar gado estavam esperando. Setenta ou oitenta pessoas foram forçadas a entrar em cada um dos vagões que continham um balde com água e um balde para excrementos humanos. Ainda no gueto, o irmão de Lily pregou uma joia no salto do sapato de sua mãe para que ficasse escondida e não pudesse ser levada. Durante a viagem até o campo de concentração a mãe de Lily trocou de sapato com a filha que calçava o mesmo número que ela, mas nunca explicou o porquê. Aquela joia provavelmente foi o único ouro que entrou e saiu dos campos de concentração com o dono original. Depois de cinco dias de viagem, eles chegaram ao campo de concentração Auschwitz-Birkenau. Ao chegar no campo, um homem com botas engraxadas e um pau na mão andava pela fila de pessoas e as enviava para um lado ou para o outro com um movimento de sua mão: para a esquerda as mães, os velhos e as crianças e para a direita aqueles que ele pensava que poderiam trabalhar. Lily não sabia na época, mas aquele homem que estava decidindo o destino de sua família era o notório doutor Josef Mengele, também conhecido como o anjo da morte, que conduziu experimentos médicos em centenas de prisioneiros. Lily assistiu sua mãe e seus irmãos menores junto com outras mulheres, crianças e bebês irem para a esquerda e caminharem para a morte sem saber que estavam se dirigindo às câmaras de gás. Lily e duas de suas irmãs foram encaminhadas para a direita e quando viram a chaminé que cuspia fogo e emanava um cheiro horrível perguntaram que tipo de fábrica era. Os que já estavam lá responderam: “Não é fábrica; eles estão queimando os parentes de vocês…” Elas obviamente pensaram que as pessoas estavam loucas, não acreditaram, mas em pouco tempo souberam que era verdade. A vida em Auschwitz era dura e as irmãs aguentavam seleções contínuas onde as pessoas eram reavaliadas. Os mais fortes eram escolhidos para trabalhar nas fábricas e aqueles que estavam muito fracos ou doentes eram levados aos crematórios. Nessas ocasiões os mortos também eram recolhidos. Em outubro de 1944 elas foram escolhidas para trabalhar em uma fábrica de munição em Altenbourg, Alemanha, onde se trabalhava 12 horas por dia com muita pouca comida, mas pelo menos não era o crematório e tampouco eram feitas as seleções. Em abril de 1945, Lily escutou o bombardeio de Leipzig. Os alemães agiram rapidamente e levaram as pessoas da fábrica em uma marcha da morte. Ela caminhou junto com os outros judeus por dias sem água, sem comida, sem descansar, sem dormir e sem sapatos. Depois de 3 dias caminhando, aviões começaram a sobrevoar o local onde eles se encontravam. Assustados, os soldados alemães fugiram e Lily estava finalmente livre. Quando os soldados americanos chegaram até eles, não havia distinção entre homens e mulheres. Estavam todos vestidos com os mesmos trapos, parecendo moribundos. Uma coisa era clara: essas pessoas necessitavam de ajuda urgente. Lily e suas irmãs buscaram refúgio na Suíça, onde tentaram reconstruir suas vidas. Ela se casou e teve filhos. Em 1953, ela se reencontrou com Imre um de seus irmãos, que havia sido preso em um campo de concentração. Em 1967 ela foi para Londres com o marido e três filhos, onde acabou por se estabelecer. Enquanto esteve no campo de concentração Lily fez uma promessa a si mesma: se ela sobrevivesse, faria de tudo para que as pessoas soubessem o que aconteceu. Ela cumpriu essa promessa e proferiu várias palestras no mundo todo, para os mais variados tipos de pessoas. “A sua pele pode ser branca ou negra, você pertence a outra religião ou à outra nacionalidade, mas não faz diferença. Você não é melhor ou pior que eu, você só é diferente… Para todos nós seres humanos nosso sangue é vermelho, e quando você nos corta, dói.”

Lily Ebert ainda portando o pequeno pingente de ouro, dado por sua por sua mãe, durante o Holocausto


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