Francine Christophe - O chocolate que ajudou a salvar uma vida
- futurasgeracoes1
- Nov 24, 2016
- 3 min read
Nascida em 18 de agosto de 1933, Francine Christophe é uma escritora e poetisa francesa. Regularmente ela oferece palestras para jovens, em escolas e faculdades, para oferecer o seu testemunho. Ela costuma relatar que o ano de seu nascimento também foi quando Adolf Hitler assumiu o cargo de Chanceler da Alemanha. Em 1939 seu pai foi chamado para lutar com o exército francês. Um ano mais tarde ele foi feito prisioneiro pelos alemães. Dentro da prisão ele tomou conhecimento das perseguições e do aprisionamento dos judeus na França e pediu então para sua esposa e filha fugirem de Paris. Elas foram presas durante a tentativa de fuga e, posteriormente mantidas nos campos franceses de Poitiers, Drancy e Beaune-la-Rolande. No dia 2 de maio de 1944 elas foram deportadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen, na Alemanha. Em um de seus relatos emocionantes, Francine mostra que ainda guarda a estrela de David, que assim como os demais judeus, era obrigada a usar em sua vestimenta. Francine sinaliza para o tamanho da estrela que é relativamente grande, para que ficasse nítida sua identificação como judia. Essa mesma estrela parecia muito maior, considerando que ela precisava usá-la quando ainda era uma criança pequenina, aos 8 anos de idade. Quando ela foi enviada para o campo de Bergen-Belsen, assim como as crianças que eram filhas de prisioneiros de guerra, ela teve o “privilégio” de levar alguma coisa da França. Em uma sacola, era possível colocar dois ou três itens pequenos. Sua mãe havia colocado dois pedacinhos de chocolate e lhe disse “Vamos guardar isso para um dia em que você esteja sucumbindo e precise muito de ajuda. Aí eu lhe darei este chocolate e você se sentirá melhor”. Francine lembra que uma das mulheres que estava presa no mesmo pavilhão que ela e sua mãe, estava grávida, mas sequer era possível perceber, tamanho era sua magreza. Em um determinado dia essa senhora entrou em trabalho de parto e ela foi encaminhada para o hospital que havia dentro do campo de concentração. Ela foi acompanhada pela mãe de Francine, que trabalhava como chefe de pavilhão. Antes de saírem em direção ao hospital, sua mãe lhe perguntou se ela ainda se recordava do chocolate que ela haviam separado. Prontamente ela responde afirmativamente. Francine, então relata um breve diálogo que ela teve com sua mãe: - Como você se sente? Pergunta, a mãe. - Bem, mamãe. Eu ficarei bem. Francine responde. - Bem, se estiver de acordo, eu gostaria de levar seu chocolate para essa senhora, nossa amiga Helena. Dar à luz aqui será difícil, talvez ela possa até vir a falecer. Caso eu ofereça o chocolate a ela, talvez lhe ajude. - Sim mamãe, siga em frente. Helena deu à luz a uma criança pequenina e frágil. Ela comeu o chocolate e não faleceu durante o parto. Posteriormente, Helena ainda pode retornar ao pavilhão. Francine recorda que a bebê nunca chorou. Nunca! Ela sequer resmungava. Passados seis meses, o campo de concentração de Bergen-Belsen foi libertado. Quando as pessoas que fizeram o resgate desembrulharam os trapos onde a bebê ficava abrigada, ela finalmente gritou, como se aquele fosse o verdadeiro momento de seu nascimento. Passados diversos anos depois, a filha de Francine lhe comentou que se aqueles que foram aprisionados durante o Holocausto tivessem recebido algum atendimento psicológico ou psiquiátrico, talvez tivessem conseguido ter uma adaptação mais fácil logo após saírem dos campos. Francine ao lhe responder disse: “Sem dúvida alguma, no entanto não tivemos (esse tipo de atendimento). Ninguém sequer pensava em doenças mentais. Mas você me deu uma boa ideia! Nós teremos uma palestra sobre esse assunto”. Francine organizou então uma palestra com a temática “Se os sobreviventes dos campos de concentração tivessem tido aconselhamento em 1945, o que teria acontecido?”. O evento acabou por reunir uma multidão: sobreviventes, historiadores e muitos psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, entre outros tantos interessados. Ela comenta que na ocasião muitas ideias interessantes surgiram e que havia sido uma experiência excelente. Continuando seu relato, Francine disse emocionada que em um dado momento da palestra, uma mulher subiu ao palco e disse: - Eu vivo em Marselha (na França), onde trabalho como psiquiatra. No entanto, antes de fazer minha apresentação eu tenho algo para Francine Christophe. Essa médica então coloca a mão no bolso, tira um pedaço de chocolate, o entrega a Francine e lhe diz “Eu sou o bebê”

Francine apresentando a estrela de David que um dia fora obrigada a usar.
Comments