Elie Wiesel - O sobrevivente laureado com o Prêmio Nobel da Paz
- futurasgeracoes1
- Dec 6, 2016
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Eliezer “Elie” Wiesel além de ser um sobrevivente do Holocausto também foi um renomado romancista, jornalista e ativista dos direitos humanos. Ele chegou a ser laureado com o Prêmio Nobel da Paz Mundial. Nascido em 30 de setembro de 1928, em Sighet, um shtetl (vilarejo) romeno, de uma família judaica ortodoxa. Seus pais, Shlomo e Sarah, eram donos de uma mercearia. Ele tinha duas irmãs mais velhas, Hilda e Bea, e uma irmã mais nova, Tsiporah. Aos três anos de idade, Elie começou a frequentar uma escola judaica onde aprendeu hebraico, teve aulas sobre a Torá e eventualmente iniciou seus estudos no Talmud. Seu pensamento foi influenciado por seu avô materno, que era um proeminente chassídico. Em sua infância, ele também passava algum tempo com Moshe, que era um funcionário da sinagoga que ele frequentava, com que ele aprendeu mais alguns temas relacionados ao judaísmo. Em 1940, a Romênia perdeu a cidade de Sighet, passando a ser um território administrado pela Hungria após a Segunda Arbitragem de Viena. A Segunda Arbitragem de Viena consistiu em um acordo territorial alcançado através da mediação e pressão da Alemanha nazista e da Itália fascista, entre a Hungria e a Romênia. Em 1942, o governo húngaro decidiu que todos os judeus que não conseguissem provar ter cidadania húngara seriam encaminhados para a Polônia, que na ocasião era dominada pelos nazistas, e subsequentemente seriam então assassinados. A única pessoa que foi enviada à Polônia e escapou foi Moshe, que voltou a Sighet para contar sua história. Moshe advertiu as pessoas a respeito das deportações e assassinatos, mas de um modo geral a população pensava que ele havia enlouquecido e assim sendo, a vida continuou como de costume. Em 1942, Elie comemorou seu Bar Mitzvah e continuou com seus estudos, tornando-se particularmente atraído pela Cabalá, que consiste no estudo do lado mais místico do judaísmo. Para aprimorar seu aprendizado ele passou a aprender sobre astrologia, parapsicologia, hipnotismo e até mesmo magia. Ele havia encontrado um cabalista em Sighet que passou a lhe ensinar sobre estes assuntos. Em março de 1944 os soldados alemães ocuparam Sighet. Eles exigiram que todos os judeus passassem a usar estrelas amarelas em suas roupas. Os nazistas fecharam as lojas dos judeus, invadiram suas casas e criaram dois guetos. As deportações tiveram início no mês de maio. A empregada da família Wiesel, que era cristã, chegou a lhes oferecer que se escondessem em sua cabana, que ficava nas montanhas, mas eles rejeitaram, preferindo ficar junto com o restante da comunidade judaica. No início de junho, os integrantes da família Wiesel estavam entre os últimos judeus a serem transportados nos vagões que eram originalmente usados para o deslocamento de gado. Com oitenta pessoas se espremendo em um vagão, Elie posteriormente chegou a registrar que: “A vida nos vagões de gado foi a morte da minha adolescência”. Depois de quatro dias, o trem terminou sua viagem, ao chegar em Auschwitz. Elie, então com 15 anos, seguiu as instruções de um companheiro de prisão e disse ao oficial da SS que ele tinha dezoito anos, era fazendeiro e tinha uma boa saúde.Ele e seu pai foram enviados para realizar trabalhos forçados. Sua mãe e irmã mais nova foram levadas para as câmaras de gás. Como os demais reclusos, Elie teve sua identidade e nomes ignorados, tornando-se conhecido apenas pelo número A-7713, que foi tatuado em seu braço esquerdo. Elie e seu pai sobreviveram por oito meses a Auschwitz e posteriormente ao campo de trabalho de Buna, que era um subcampo de Auschwitz III. Eles resistiram a espancamentos, a fome, as chamadas, onde os presidiários eram forçados a caminhar e a ficar horas de pé e a outras tantas torturas. Eles também testemunharam diversos enforcamentos. Apesar das adversidades, Elie ainda encontrava forças para rezar todos os dias. Recordando-se dos horrores passados no campo de concentração, certa vez Elie disse: “Cada passo foi programado, como um laboratório científico. E o que eles alcançavam? Mortes e mais mortes. ... Uma fábrica de mortes”. No inverno entre 1944-1945, o pé de Elie inchou. Ele foi a um médico do campo que o operou. Dois dias depois, em 19 de Janeiro, a SS forçou os presidiários de Buna a iniciarem uma marcha da morte. Durante dez dias, os prisioneiros foram obrigados a caminhar e no final, foram amontoados em vagões de carga e enviados para Buchenwald. Dos 20.000 prisioneiros que deixaram Buna, apenas 6.000 chegaram até Buchenwald. Na noite do dia 28 de janeiro, o pai de Elie, que já estava doente e bastante debilitado, com disenteria, fome e exaustão, foi dormir e pela manhã Elie verificou que em seu lugar já havia outra pessoa. Sem saber se ele havia sido encaminhado vivo ou morto para o crematório, ele sabia que ao menos seu pai havia repousado. Sobre a morte de Shlomo, em uma de suas obras, Elie faz o seguinte relato: “Se em um momento eu pudesse procurar nos restos de minha débil consciência, eu talvez pudesse ter encontrado algo como: ‘enfim livre!’”. À medida que o fim da guerra se aproximava, em 6 de abril de 1945, os guardas disseram aos prisioneiros que eles deixariam de ser alimentados e começariam a evacuar o acampamento, matando 10.000 prisioneiros por dia. Um movimento interno de resistência teve início dentro do campo e tomou corpo na manhã do dia 11 de abril. Contando com algumas armas que os prisioneiros tinham conseguido capturar, foi possível atacar os guardas da SS. Pouco depois, as primeiras unidades militares dos americanos chegaram e libertaram aos prisioneiros do campo. Após a libertação, Elie adoeceu, apresentando problemas intestinais e passou vários dias em um hospital. Enquanto estava hospitalizado ele escreveu o esboço de um livro, relatando suas experiências durante o Holocausto. Ele não estava pronto para divulgar suas experiências, no entanto, prometeu a si mesmo que ele esperaria 10 anos antes de escrever suas memórias em detalhes. Quando Wiesel foi liberado do hospital, ele não tinha familiares para quem pedir ajuda. Por isso, ele se juntou a um grupo de 400 crianças órfãs e acabou sendo levado para a França. Na chegada, ele tentou emigrar para a Palestina, mas não lhe foi permitido. Em 1947, ele começou a estudar francês com um tutor. Por acaso, sua irmã Hilda, viu uma foto dele em um jornal e conseguiu encontrá-lo. Meses mais tarde, Elie também se reuniu com sua irmã Bea na Antuérpia. Ainda na França, Elie teve contato com um estudioso judeu conhecido apenas como “Shushani”. Shushani foi um homem brilhante. Ainda que misteriosa a sua verdadeira identidade, ele encantou o público com suas ideias em todas as áreas do conhecimento judaico em geral. Elie Wiesel tornou-se seu aluno e foi profundamente influenciado por ele. Shushani ensinou a Wiesel a questionar e fez ele perceber o quão pouco ele realmente sabia. Em 1948, Wiesel se matriculou na Universidade Sorbonne, onde estudou literatura, filosofia e psicologia. Ele começou a trabalhar como repórter e em 1949, viajou para Israel como correspondente para o jornal francês L’Arche. Em Israel, ele conseguiu um emprego em Paris, para atuar como correspondente do jornal israelense Yediot Achronot e na década de 1950, ele viajou ao redor do mundo como um repórter. Em 1955 mudou-se para Nova York como correspondente estrangeiro do jornal Yediot Achronot e em 1958 publicou seu primeiro livro. Em 1969 Elie casou-se com Marion, também sobrevivente do Holocausto. Eles tiveram um filho em 1972, a quem deram o nome de Shlomo Elisha Wiesel, em homenagem ao pai de Elie. Nos anos seguintes, Elie publicou diversos livros. De 1972 a 1978, Wiesel foi um distinto professor de Estudos Judaicos na Universidade da Cidade de Nova York. Em 1978, tornou-se Professor de Ciências Humanas da Universidade de Boston. No mesmo ano o presidente Jimmy Carter lhe pediu para liderar o Conselho Americano de Memorial do Holocausto, que ele fez durante seis anos. Em 1985, Wiesel foi agraciado com a Medalha de Ouro do Congresso por suas realizações. Em 1988, ele estabeleceu sua própria fundação humanitária, a Fundação Elie Wiesel para a Humanidade, para explorar os problemas de ódio e conflitos étnicos. Wiesel recebeu inúmeros prêmios e cerca de 75 doutorados honorários. Elie veio a falecer no dia 02 de julho de 2016, na cidade de Boston, nos Estados Unidos.

Elie Wiesel
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